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Publicado em 12-Abr-2016 às 14:59

Balança comercial equilibra-se

O sector das frutas, legumes e flores representou há dois anos 2,5% das exportações totais da economia portuguesa e 23% de todo o sector agro-alimentar.

 

Nos últimos anos, o sector das frutas, legumes e flores aumentou a sua capacidade exportadora, caminhando a passos largos para o equilíbrio da balança comercial. Manuel Évora, presidente da Portugal Fresh, refere que em 2010, ano da criação da Portugal Fresh, o sector exportava 65% do valor que importava. Em 2014, as exportações já atingiram os 92% e em Outubro de 2015 subiram para os 97%.

Falando de dinheiro, as exportações do sector estão hoje na ordem dos 1.100 milhões de euros. Manuel Évora entende que é alcançável o objectivo de atingir os 2 mil milhões de euros em 2020.

Todo este crescimento não é dissociável do aparecimento da Portugal Fresh, congregando empresas e associações e funcionando como a marca-chapéu de Portugal, como sucedeu em Fevereiro, na capital alemã, na Fruit Logistica, uma das maiores feiras mundiais do sector.

 

Desde o final de 2010, quando foi constituída, o que mudou ao nível produtivo no país com a criação da Portugal Fresh?

Desde a criação da Portugal Fresh, o sector das frutas, legumes e flores aumentou consideravelmente a sua capacidade exportadora. As empresas profissionalizaram-se ainda mais e investiram consideravelmente em tecnologia de produção e inovação aliada a uma representação internacional onde o marketing dos produtos passou a ser um investimento determinante. Este é um hoje um sector que aumentou as suas exportações acima de 10% ao ano, entre 2010 e 2014, passando de 780 milhões de euros para 1.100 milhões de euros, e que em Outubro de 2015, comparando com período homólogo do ano anterior, cresceu acima de 13%.

 

No seu entender para onde caminha o sector?

O sector caminha a passos largos para o equilíbrio da balança comercial, uma meta da economia portuguesa tão ambicionada pelos nossos governantes. Isto mesmo é facilmente constatável nos números, ou seja, em 2010, no ano da criação da Portugal Fresh, o sector exportava 65% do valor que importava; em 2014, atingimos nas exportações os 92% do valor das importações; e em Outubro de 2015 atingimos os 97%. Também temos um objectivo que é hoje uma bandeira do Ministério da Agricultura: o de atingirmos os 2 mil milhões de euros de exportações em 2020.

 

Quais os desafios que se colocam ao sector agro-industrial em Portugal?

Os desafios a este sector prendem-se com a continuidade dos investimentos na modernidade das explorações, com a actualização permanente das tecnologias que permitem a melhor rentabilidade das culturas, e fundamentalmente com a conquista de novos mercados internacionais. O mercado interno é também um enorme desafio, onde se devem construir estratégias que permitam contrariar a baixa de consumo per capita que se tem verificado no consumo das frutas e legumes nos últimos anos. Despertar as gerações dos mais novos para aumentarem o consumo das frutas e legumes deve ser um desafio da responsabilidade da nossa sociedade.

 

Que papel desempenha a inovação para responder a esses desafios?

A inovação em qualquer sector é o garante da continuidade e da constante procura de surpreender o consumidor, desafiando-o a manter a sua afinidade com os produtos. A responsabilidade de empresas e empresários é apostarem em desenvolver produtos com características que agradem aos consumidores e que sejam uma resposta aos seus anseios e preocupações. A vida moderna exige a construção de produtos que facilitem a vida aos consumidores modernos.

 

As empresas nacionais estão mais voltadas para inovar no cultivo e produção de alimentos, em produzir novos alimentos/sabores ou em melhorar aspectos de marketing e de design dos produtos?

As empresas têm de estar disponíveis para todos estes investimentos. Na produção, para continuar à procura de maior rentabilidade, nas novas variedades, para continuar a surpreender os consumidores e principalmente no marketing dos produtos, área em que é necessário aumentar consideravelmente os investimentos. Hoje em dia as empresas da área agrícola já reservam uma parte dos seus orçamentos para a promoção dos produtos, e inclusivamente contratam profissionais e/ou empresas especialistas nesta área.

 

Qual o peso da indústria agro-alimentar na economia em 2015? Que contributo dá o sector para o PIB e para a criação de emprego?

O sector das frutas, legumes e flores produz regularmente cerca de 2,5 mil milhões de euros por ano, tendo atingido em 2014 um valor de exportações de 1,1 mil milhões de euros, que representou 2,5% das exportações do total da economia portuguesa e 23% de todo o sector agro-alimentar. No que concerne à empregabilidade, este sector das frutas, legumes e flores é responsável por 36% de todo o emprego na agricultura.

 

No que respeita à exportação dos produtos portugueses, como tem sido a evolução dos negócios por parte dos vossos associados?

Como já foi referido anteriormente, as exportações das frutas, legumes e flores passaram de 780 milhões em 2010 para 1,1 mil milhões em 2014, o que representou um crescimento de 41%, e o grande desígnio nacional é obter a mítica marca de 2 mil milhões em 2020.

 

Que apoios estatais e outros têm tido, a Portugal Fresh e os seus associados, para facilitar a internacionalização dos seus negócios? Consideram esses apoios suficientes ou podiam e deviam ser mais intensos?

Temos de considerar dois tipos de apoio que são a sustentabilidade da Portugal Fresh. Um tipo de apoio são os projectos, que têm uma parte de intervenção estatal e outra de investimento das empresas como, por exemplo, o QREN e mais recentemente o PDR 2020. A Portugal Fresh tem obtido uma taxa de execução de 100% que revela o profissionalismo da sua estrutura. Outro apoio não menos importante e muitas vezes decisivo é o das empresas parceiras que patrocinam a vida da associação. Neste caso assume grande relevo a extraordinária parceria com o Crédito Agrícola, que tem apoiado e participado activamente com a Portugal Fresh e os seus associados. O Governo de Portugal, muito concretamente o Ministério de Agricultura, tem partilhado com consistência e de forma estratégica a aposta nas orientações da Portugal Fresh e dos seus associados para conquistarmos os mercados mundiais.

 

Quais devem ser as apostas estratégicas das empresas portuguesas das fileiras hortícola, frutícola e florícola para potenciarem os seus negócios além-fronteiras?

As apostas na internacionalização devem passar por reforçar a estratégia de negociação conjunta dos associados, como tem sido o exemplo brilhante com a Lidl internacional. Por decisão dos associados, esta será a forma como nos vamos apresentar em novos mercados para potenciarmos a capacidade negocial. Também se afigura muito importante apostar na promoção da diferenciação qualitativa dos produtos portugueses alavancando o que de melhor se produz em Portugal.

 

A preferência do mercado interno por produtos nacionais é importante, antes da conquista de novos mercados? O que se pode objectivamente fazer para levar os portugueses a optar pela produção nacional?

Neste caso específico mantém-se a tradição, ou seja, ser necessário sermos muito bons no mercado externo para agora sermos também valorizados condignamente no mercado nacional. Por vontade dos nossos associados, a Portugal Fresh está a iniciar uma estratégia de comunicação que visa a promoção do consumo de frutas e legumes em Portugal. Esta estratégia consiste na valorização dos produtos portugueses pela sua diferenciação, e tem como objectivo convencer os consumidores portugueses a preferirem comprar o que de melhor se produz no nosso país.

 

Face a uma situação económica nacional debilitada, considera que o preço dos produtos é ainda um factor decisivo nas escolhas do consumidor nacional? E o que devem fazer as empresas da fileira agro-alimentar a este nível?

Apesar da crise e da menor capacidade de compra dos portugueses, temos de inverter a tendência de menor consumo de frutas, legumes e flores em Portugal. Os portugueses gostam de comer bem e, mais importante, de comprar produtos em promoção muitas vezes abaixo do custo de produção, contudo o relevante é comprar o que é bom e nos faz deliciar os sabores, e nisso os nossos produtos são únicos. Temos como certo que os portugueses estão disponíveis para valorizar os produtos dos seus agricultores que são fantásticos em termos de cor, textura, aroma e sabor. Um dos grandes objectivos é colocar as gerações dos mais pequeninos a comerem mais frutas e mais legumes de Portugal.

 

Considera que a inovação e a investigação académica são fulcrais para a valorização dos produtos nacionais nos mercados internacionais?

Este é um tema pertinente e interessante de comentar porque, por tradição, a investigação tem estado muitas vezes divorciada das empresas. Sem estar sempre a tentar identificar os culpados, o importante é estabelecer parcerias sérias e sólidas para o futuro. A comunidade científica pode prestar uma colaboração decisiva na valorização dos produtos portugueses sustentando a teoria da diferenciação qualitativa de excelência dos nossos produtos. Esta será uma contribuição determinante na conquista de mercados e clientes neste mundo global.

 

Quais as metas a curto prazo que a Portugal Fresh quer atingir, para si, enquanto associação, e para os seus associados?

A Portugal Fresh e os seus associados têm como objectivo a consistência da conquista dos mercados internacionais, mantendo a pressão e a parceria com o Governo para continuarmos a abertura de novos mercados. Temos como meta duplicar as nossas exportações até 2020. No mercado nacional, desejamos construir uma grande estratégia de promoção de consumo de frutas, legumes e flores que envolva os Ministérios da Agricultura, Economia, Saúde e Educação, a moderna distribuição, os mercados municipais, o comércio tradicional, a imprensa, e também será muito importante a participação parceira de instituições com o Crédito Agrícola.

 

Que avaliação faz das relações entre os associados da Portugal Fresh e as instituições bancárias nacionais, em particular, com as que integram o grupo Crédito Agrícola?

A banca nacional durante muitos anos olhou muito desconfiada para a agricultura e muitas vezes esteve presente de forma envergonhada no apoio aos projectos agrícolas e às empresas do sector. Ultimamente, e acompanhando o desempenho das empresas do sector, tem estado mais atenta e mais disponível para apoiar os bons projectos. O Crédito Agrícola por tradição e por estratégia sempre esteve atento às empresas e aos projectos da agricultura, assim como à construção de produtos financeiros para o sector.

 

Que papel desempenha a banca nacional na inovação e transformação da indústria agro-alimentar?

A banca nacional deve saber avaliar os bons projectos que tenham como fundamento a inovação do sector, porque este é o lema da continuidade e do desenvolvimento para o futuro. As empresas necessitam de reforçar os investimentos em inovação no que concerne à formação dos seus profissionais, e muito principalmente no desenvolvimento de novas tecnologias de produção e equipamentos modernos de transformação e comercialização. O sector necessita e desafia a banca nacional a acreditar que a agricultura não é apenas uma moda, mas sim uma aposta séria na economia de Portugal consistente e de grande orgulho internacional para todos os portugueses.