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Publicado em 19-Dez-2017 às 15:59

Digitização só vingará com conhecimento

A precisão é um termo que já integrou o léxico do sector agrícola e a sua associação às tecnologias de informação e comunicação é sinónimo de mais-valias incontestáveis. Mas, também há riscos e o equilíbrio entre o conhecimento do sector e estes catalisadores tecnológicos continua a ser a opção mais acertada.

 

A transformação digital, a IoT ou a inteligência artificial são conceitos que já não são desconhecidos para os protagonistas do sector agrícola. A grande questão agora é de que forma estes novos recursos poderão ser potenciados para maximizar as receitas e minimizar os custos do sector agrícola e, consequentemente, da economia nacional.

Foi sobre esta e outras questões que incidiu o painel de debate subordinado ao tema “Digitização enquanto futuro do sector”, que contou com as presenças de André Sá, do INESC TEC; Felisbela Torres de Campos, da Syngenta; João Ribeiro Lima, do INIAV; e Joaquim Pedro Torres, da Valinveste. A moderação esteve a cargo de Isabel Martins, editora da revista Vida Rural.

André Sá, do INESC TEC, abriu o debate conferindo ao termo “digitização” o significado do que é a era digital no sector agrícola. Um contexto de sistemas tecnológicos que se alimente de dados e informação para entregar aos agricultores/produtores conhecimento pa- ra apoiar as decisões. As vantagens ao nível da gestão da informação para a decisão são inegáveis, mas João Ribeiro Lima, do INIAV, admite que há desafios que devem ser alinhados com esta vertente tecnológica e que se prendem essencialmente com o conhecimento do sector e com os desafios que todos os dias são colocados, nomeadamente de ordem climática, da segurança alimentar, dos mercados de exportação, da água, do solo, entre outros. A tecnologia tem de casar com o conhecimento do sector para que, à semelhança do que já acontece noutras áreas, traga as mais-valias esperadas.

De acordo com este responsável, há que ter cuidados redobrados para não se deslumbrar com o potencial da tecnologia, mas também é essencial que não se encarem os problemas do sector como algo complexo e sem solução. É necessário falar com o cliente e perceber os problemas reais e as soluções implementadas. “No INIAV, a inovação é feita por equipas multidisciplinares e com parceiros-chave, como o INESC TEC, o que permite chegar a soluções diversas, desenvolvê-las e testá-las no terreno até serem soluções que possam ser colocadas no mercado”, esclareceu João Ribeiro Lima.

 

Aprender a arte de cultivar é o primeiro passo para inovar

Ao lado dos agricultores, Felisbela Torres de Campos, da Syngenta, reitera que existem desafios que é preciso endereçar e aos quais os agricultores não podem fugir. Perante a necessidade de garantir o aumento da produtividade de forma sustentável, a preservação ambiental e da biodiversidade através de boas práticas e tecnologia que permita preservar o solo e utilizar de forma eficiente os recursos naturais, como a água, e ainda as questões sociais que passam por contribuir para a riqueza das populações agrícolas e capacitar a sua competitividade são alguns dos desafios que é preciso encarar de frente e para os quais a digitização terá respostas. “Todas as ferramentas ajudam a desenvolver tecnologia para alcançar estes objectivos.”

Na primeira pessoa, Joaquim Pedro Torres, da Valinveste, confirma que é possível utilizar positivamente as tecnologias de informação na agricultura. Este empresário deixou bem claro que as empresas agrícolas devem procurar utilizar eficientemente os factores de produção, já que a subsistência delas no mercado global competitivo obriga a que estejam actualizadas do ponto de vista de meios e de conhecimento.

Com um percurso de mais de 20 anos na aplicação de tecnologia aos seus processos, este responsável destacou os ganhos obtidos por via da digitização. “Hoje somos capazes de saber em cada ponto da propriedade qual foi a produtividade”, referiu.

 

A tecnologia só por si não é suficiente

Apesar de todas as vantagens, Joaquim Pedro Torres aconselhou cautela aos agricultores na avaliação dos mecanismos tecnológicos, até porque a agricultura não vive para ser a mais moderna e a mais sofisticada a todo o custo, havendo problemas que estão na franja da actividade e que talvez não sejam os mais importantes numa óptica de custo/beneficio. Segundo ele é importante que exista investimento nesta área e noutras que têm impacto na rentabilidade das empresas, cabendo a cada agricultor avaliar a maturidade das soluções dispo­níveis, já que existem muitos factores que influenciam a agricultura (terra, irrigação, fertilização) e sobre os quais ainda é necessário investigar. “Há muito a trabalhar na área do conhecimento”, alertou o responsável.